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2012 - Livro Vermelho 2013

Butia eriospatha (Mart. ex Drude) Becc. VU

Informações da avaliação de risco de extinção


Data: 29-06-2012

Criterio: B2ab(ii,iii,iv,v)

Avaliador: Pablo Viany Prieto

Revisor: Tainan Messina

Analista(s) de Dados: CNCFlora

Analista(s) SIG:

Especialista(s):


Justificativa

Butia eriospatha é uma espécie ocorrente nas Formações Campestres de Altitude da Região Sul do Brasil. A AOO é de 44 km² e o número de situações de ameaça é 10. A espécie está sujeita a um rápido declínio na extensão e qualidade do seu habitat ao longo de praticamente toda a sua distribuição, devido à expansão de atividades agropecuárias. Além disso, é possível suspeitar que, em áreas intensamente urbanizadas, como a cidade de Curitiba, a espécie tenha sido extinta localmente, ocasionando um declínio na AOO, no número de subpopulações e de indivíduos maduros.

Taxonomia atual

Atenção: as informações de taxonomia atuais podem ser diferentes das da data da avaliação.

Nome válido: Butia eriospatha (Mart. ex Drude) Becc.;

Família: Arecaceae

Sinônimos:

  • > Butia punctata ;
  • > Calappa eriospatha ;
  • > Cocos eriospatha ;
  • > Syagrus eriospatha ;

Mapa de ocorrência

- Ver metodologia

Informações sobre a espécie


Notas Taxonômicas

Descrita originalmente na obra Agricoltura Coloniale 10: 496. 1916., a espécie é popularmente conhecida como "butiá", "butiá-da-serra", "butiazeiro", "macuma" ou "butiá-veludo"; pode ser facilmente diferenciada das outras espécies do gênero de porte arbóreo pela presença de denso tomento lanoso revestindo a bráctea peduncular, por suias pequenas flores femininas e por seus frutos globosos (Lorenzi et al., 2010).

Potêncial valor econômico

​Apesar de ainda não ser amplamente utilizada para fins econômicos devido a seu rápido tempo de perecimento (Zingler et al., 2009) e por apresentar uma utilização mais regional, a espécie apresenta enorme potencial de exploração. Tendo em vista a diversidade de produtos obtidos de diferentes partes desta planta, como o vinho (Zingler et al., 2009), produtos alimentícios (geleias, sucos), e utilização no paisagismo (Lorenzi et al., 2010), Butia eriospatha possui grande potencial econômico. Para este último, a espécie tem sido amplamente utilizada, já tendo valor no mercado de plantas ornamentais (Minardi et al., 2011)

Dados populacionais

Com base nos registros de coleta de B. eriospatha, foram estimadas cerca de 14 populações ao longo de sua extensão de ocorrência (CNCFlora, 2011). Embora pouco seja conhecido da autoecologia de B. eriospatha, há um consenso de que a população está em declínio. Em estudo com quatro subpopulações, B. eriospatha apresentou estrutura demográfica polarizada, constituída por indivíduos senis e plântulas. Altas taxas de herbivoria (> 77%) foram registradas, indicando que a estrutura demográfica observada é resultado da ação do gado sobre o componente regenerante. Baixos níveis de diversidade genética (P 95% = 14,3 ± 0,5; A = 1,85 ± 0,17) foram observados nas subpopulações de Butia eriospatha estudadas. Dos 14 locos analisados, 12 foram monomórficos, dos quais 10 apresentaram alelos fixados em todas as subpopulações. A presença de alelos raros e privativos e a diferenciação genética entre as subpopulações de B. eriospatha (F ST = 0,40; P < 0,05) atestam a necessidade de conservação in situ da variabilidade genética ainda existente (Nazareno et al., 2010). A espécie apresenta Tempo de Geração de cerca de 10 anos, conforme estimado por CNCFlora para plantas arbóreas (2011).

Distribuição

A espécie é endêmica do Brasil, ocorrendo nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Leitman et al., 2012). A espécie foi registrada em altitude que variam entre 700 e 1200 m (Megguer, 2006).

Ecologia

Planta arbórea, terrícola; formam agrupamentos puros bastante densos (butiatuba, butiazal) em regiões de altitude de vegetação aberta (Formações Campestres) das "Matas dos Pinhais" (Floresta Ombrófila Mista) (Bauermann et al., 2010; Lorenzi et al., 2010), associadas ao domínio fitogeográfico Mata Atlântica (Leitman; Henderson, 2012). Foi registrada com flores nos meses de novembro e dezembro e com frutos durante o verão; um quilo de frutos maduros contem cerca de 200 sementes, as quais germinam em dois a três meses (Lorenzi et al., 2010). Suas sementes apresentam um índice muito baixo de germinação, em torno de 20 a 25%, com um período muito longo para a emergência da plântula (Carpenter, 1988).

Ameaças

1.1.2.2 Large-scale
Detalhes Lorenz-Lemke et al. (2010) destacam aspectos da conservação dos campos do Sul do Brasil. Citando Behling (2002) e Behling; Pillar (2007), esses autores evidenciam que as áreas de campos do planalto Sul e Sudeste do Brasil são escassas e pequenas e estão sendo reduzidas ainda mais pelos atuais processos antropogênicos. As maiores áreas de pastagem naturais (maior que 10.000 km²) foram substituídas por florestas de pinheiros exóticos e diversas práticas agrícolas, que são as principais ameaças à pastagem natural.

1.1 Agriculture
Detalhes Em 1970, a área total de Campos no sul do Brasil era 18 milhões ha, ao passo que em 1996 a área estava em 13,7 milhões ha (i.e. 23,7% da área total dessa região), sendo 10,5 milhões ha no RS (área total: 28,2 milhões ha), 1,8 milhão ha em SC (área total: 9,6 milhões ha) e 1,4 milhão ha no PR (área total: 20 milhões ha). Assim, um decréscimo de 25% da área total dos campos naturais ocorreu nos últimos 30 anos devido a uma forte expansão das atividades agrícolas (Overbeck et al., 2009).

1 Habitat Loss/Degradation (human induced)
Detalhes O risco de ameaça é devido à perda de habitat, à venda ilegal de espécimes, à exploração de seus frutos e à presença do gado em suas áreas de ocorrência (Nazareno et al., 2010).

1.1.4 Livestock
Detalhes A criação de gado é uma ameaça a biodiversidade no sul do Brasil. O pastejo excessivo resulta em diminuição na cobertura do solo e em riscos de erosão, além de substituição de espécies forrageiras produtivas por espécies que são menos produtivas e de menor qualidade, ou até mesmo na perda completa das boas espécies forrageiras. Em 1996, 7 milhões ha na Região Sul do Brasil eram utilizados com pastagens cultivadas, principalmente com espécies não-nativas (Overbeck et al., 2009).

Ações de conservação

1.2.1.2 National level
Situação: on going
Observações: A espécie consta no Anexo I da Instrução Normativa nº 6 de 23 de setembro de 2008 (MMA, 2008), sendo, portanto, considerada oficialmente ameaçada de extinção. Foi considerada "Vulnerável" (VU) em avaliação de risco de extinção empreendida pela Fundação Biodiversitas (2005).

1.2.1.1 International level
Situação: on going
Observações: A espécie foi considerada "Vulnerável" (VU) em avaliação de risco de extinção empreendida pela IUCN (Henderson, 2011).

1.2.2.3 Sub-national level
Situação: on going
Observações: A espécie foi considerada "Em perigo" (EN) em avaliação de risco de extinção empreendida para a flora do Estado do Rio Grande do Sul (CONSEMA-RS, 2002).

4.4 Protected areas
Situação: on going
Observações: A espécie se encontra protegida por unidade de conservação (Parque Estadual da Araucária - SC) (CNCFlora, 2011), porém não é suficiente para garantir a conservação da maior parte da população natural desta espécie.

4.4.1 Identification of new protected areas
Situação: needed
Observações: A população de B. eriospatha não possui toda a sua diversidade genética protegida legalmente sob a forma de unidades de conservação (CNCFlora, 2011), o que é fundamental para a conservação eficaz deste táxon, já que a presença de alelos raros e privativos e a diferenciação genética entre as subpopulações (FST = 0,40; P < 0,05) atestam a necessidade de conservação in situ da variabilidade genética ainda existente (Nazareno et al., 2010).

5.7.1 Captive breeding/Artificial propagation
Situação: on going
Observações: Em Minardi et al. (2011) estabeleceu-se protocolo para germinação in vitro de B. eriospatha através da cultura de embriões zigóticos. Também foi descrita uma metodologia para avaliação da viabilidade dos embriões através do uso do tetrazólio. O protocolo descrito para assepsia dos embriões foi eficiente, evitando a propagação de fungos e bactérias e não causando dano ao material de propagação. A utilização de embriões zigóticos como fonte de explante, facilita o estabelecimento de culturas assépticas por apresentarem um baixo nível de contaminação. A germinação in vitro de embriões zigóticos, com a posterior formação de plântulas, é eficiente em meio MS sólido, com 0,3% de carvão ativado, 0,5 g.L -1 de glutamina, 0,5 mg.L-1 da auxina 2,4- D e 30 g.L-1 de sacarose. A presença da auxina 2,4-D, combinada com carvão ativado, ocasionou um incremento na germinação. A ausência do carvão ativado no meio de cultura estabelecido resultou na produção de calo. A alta taxa de formação de plantas a partir do embrião zigótico possibilita a obtenção de explantes assépticos que poderão ser utilizados para a multiplicação da espécie, tanto por organogênese quanto por embriogênese somática. Existem também dois indivíduos da espécie em cultivo no arboreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Leitman, com. pess.).

Usos

Referências

- HENDERSON, A. IUCN Red List of Threatened Species. Disponivel em: <www.iucnredlist.org>. Acesso em: 14 de Março de 2012.

- LEITMAN, P.; HENDERSON, A.; NOBLICK, L. ET AL. Arecaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil, Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/>. Acesso em: 13 março 2012.

- LORENZI, H.; NOBLICK, L.; KAHN, F. ET AL. Flora Brasileira - Arecaceae (Palmeiras). Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2010. 384 p.

- FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. Revisão da lista da flora brasileira ameaçada de extinção. Belo Horizonte, MG: FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, 2005.

- INSTITUTO PLANTARUM. Acervo Vivo: Jardim Botânico Plantarum. Disponivel em: <http://www.plantarum.org.br/jardim-botanico>. Acesso em: 13 de Março de 2012.

- ZINGLER, F.M. ET AL. Processo de fermentação alcoólica e caracterização do fermentado de Butiá (Butia eriospatha Mart. Ex Drude). , 2009.

- Butia eriospatha - Butiá-da-serra in Flora de São Bento do Sul. Disponivel em: <https://sites.google.com/site/florasbs/arecaceae/butia-da-serra>. Acesso em: 16 de Maio de 2012.

- NAZARENO, A.G. ET AL. Estrutura populacional e diversidade genética de Butia eriospatha (Arecaceae), uma espécie ameaçada de extinção. , 2010.

- BAUERMANN, S.G. ET AL. Diferenciação polínica de Butia, Euterpe, Geonoma, Syagrus e Thritrinax e implicações paleoecológicas de Arecaceae para o Rio Grande do Sul. lHERINGIA, Série Botânica, v. 65, n. 1, p. 35-46, 2010.

- CLARICE APARECIDA MEGGUER. Fisiologia e preservação da qualidade pós-colheita de frutos de Butiá (Buita eriospatha (Martius) Beccari. Dissertação de Mestrado. Lages, SC: Universisdade do Estado de Santa Catarina, 2006.

- MINARDI, B.D. ET AL. Cultivo in vitro de embriões zigóticos de Butia eriospatha (Mart. ex Drude) Becc. INSULA Revista de Botânica, n. 40, p. 70-81, 2011.

- LORENZ-LEMKE, A. P.; TOGNI, P. D.; MÄDER, G. ET AL. Diversification of plant species in a subtropical region of eastern South American highlands: a phylogeographic perspective on native Petunia (Solanaceae). Molecular Ecology, v. 19, n. 23, p. 5240-5251, 2010.

- CARPENTER, W.J. Seed after-ripening and temperature influence Butia capitata germination. Hort Science, v. 23, n. 4, p. 702-703, 1988.

- OVERBECK, G. E.; MÜLLER, S. C.; FIDELIS, A. Os Campos Sulinos: um bioma negligenciado. In: PILLAR, V. DE P.; MÜLLER, S. C.; CASTILHOS, Z. M. DE S.; JACQUES, A. V. Á. (Eds.). 2009. 26-41 p.

- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Instrução Normativa n. 6, de 23 de setembro de 2008. Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção e com deficiência de dados, Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2008. Seção 1, p.75-83, 2008.

- CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, RIO GRANDE DO SUL. Decreto estadual CONSEMA n. 42.099 de 31 de dezembro de 2002. Declara as espécies da flora nativa ameaçadas de extinção no estado do Rio Grande do Sul e da outras providências, Palácio Piratini, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 31 dez. 2002, 2002.

- LEITMAN, P. Comunicação da especialista Paula Leitman, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), para o analista Diogo Judice, pesquisador do CNCFlora, em 04/04/2012., 2012.

- Base de Dados do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). Disponivel em: <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/>. Acesso em: 2011.

Como citar

CNCFlora. Butia eriospatha in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Butia eriospatha>. Acesso em .


Última edição por CNCFlora em 29/06/2012 - 16:29:30